(...) “Como o senhor está pai?”. “Bem melhor meu
filho” ele respondeu meio cansado. Eu continuei: “Queria pedir desculpas por
ontem. Sei que lhe magoei expondo o estava se passando comigo. Devia ter
pensado na sua saúde antes de tudo”. Ele me olhou profundamente, e disse: “Eu
não quero te ver jogado nesse mundo feito cão sem dono Bruno. Eu te amo filho,
eu te amo, te amo muito, demais. Você pra mim é um ídolo. Eu te admiro muito,
você é determinado, estudioso, batalhador, sonha alto... você é exemplo de
muitos jovens aí fora. As pessoas desse bairro te admiram, te adoram, sabem
quem você é. Seu sonho não pode ser interrompido desse jeito, você tem que
continuar a persistir nele até alcançar. E eu sei que você vai alcançar. Não me
dá desgosto agora no fim da minha vida, meu filho, por favor,”. As lágrimas que
saiam dos seus olhos e as palavras comoventes me deixaram comovido, cai no
choro e abracei-o firme, intenso. Ficamos abraçados por muito tempo, até nos
acalmarmos. (...)
(...)
(...) Foi a partir daí que eu comecei a abandonar tudo
de uma só vez. Achava que nunca, nada tinha mais jeito na minha vida. O único
jeito pra me consolar era mergulhar no mundo das drogas e me afundar de vez,
sem olhar pros lados, sem nunca olhar pros lados. E foi isso o que exatamente
aconteceu. Procurei Carlos e Leandro pra me darem drogas e eles me deram.
Pagaria ao Carlos satisfazendo os desejos do Leandro. A primeira vez que nós
transamos, o Leandro gostou e quis mais, na segunda foi melhor, pra ele, pra
mim era sem graça, só tinha graça quando a ereção saia dava um prazer e eu não
pensava mais naquele viado, pensava na Doralice. Pra pagar as drogas que eu
usava tive que me prostituir. Acha que me prostituir pra satisfazer desejos de
mulher? Engano. Prostituir-me pra satisfazer os desejos dos homens que gostavam
de comer viado. Foi isso o que me tornei, um homossexual.Passei a me infiltrar
em gangues pra roubar bancos, extorquir pessoas, assaltar gente pobre e rica,
ambas indefesas. Pedi pra Doralice abortar o filho, ela não queria, pois a
criança já estava desenvolvida, ela estava no sexto mês de gestação e não tinha
mais jeito mesmo. Ela continuou com a gravidez, mas sem mim, porque eu a
abandonei. E não foi só ela que eu abandonei. Desistir dos meus sonhos,
abandonei minha casa e fui morar com o Leandro — ele mora sozinho, já é
independente, se sustenta com as drogas que vende e com as noitadas nas orlas —
abandonei meu pai e meu irmão, fingi que nunca existiram pra mim. Passava 24
horas fumando drogas no quartinho que o Leandro conseguiu pra mim, não parava
pra comer. Perdi 10 quilos, estava osso puro, já não era muito gordo mesmo.
Estava irreconhecível. Não era mais o Bruno Santos, o cara sonhador e
batalhador do Pelourinho, era o Bruno Santos, drogado e jogado no mundo feito
um cachorro sarnento. (...)
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