sábado, 15 de dezembro de 2012

Posts do Capítulo 9

(...) Comecei a usar drogas novamente. Envolvia-me cada vez mais. Cada dia que passava mergulhava mais a fundo naquele mundo que para mim não era mais estranho, já tinha passado por aquilo e resolvi passar de novo só para esquecer os problemas da vida. Alan já entendia tudo aquilo. Decidiu ir embora pra Salvador e morar com tia Celina. Eu deixei, não queria ninguém na minha barra. Ainda possuía casas boas, carrões, dinheiro no banco, posses e outras riquezas. Vendi dois carros para pagar as drogas que comprava e devia a um traficante no Rio. Não quis vender o casarão que morava nem o conversível prata que tinha comprado. Comprava mais drogas e usava dentro de casa. Voltei a emagrecer porque não comia. Frequentava bailes funks, praticava imoralidade sexual de todos os tipos. Experimentava diversos tipos de drogas. Desde as drogas naturais, maconha, ópio, psilocibina, DMT – Dimetiltriptamina, Cafeína, Cogumelos Alucinógenos, passando pelas drogas sindéticas, Anfetaminas, Barbitúricos, Ecstay, LSD, Metanfetamina, e chegando as drogas Semi-Sindéticas, Heroína, Crack, Cocaína, Morfina e Merla.  (...)
(...)

Cheguei em casa atordoado, espantado. Entrei debaixo da cama e lá mesmo começava a usar drogas. Fazia cigarros de maconha, de pó de crack e de cocaína. Não parava nenhum instante pra nada. Em seguida, a campainha tocou. Meu coração acelerou, pensei que era a polícia. Desci as escadas cambaleando, olhei através do olho mágico, eram alguns amigos e umas mulheres. Abrir a porta e os convidei para entrar. Fizemos uma festa. Tinha bebidas na geladeira, comida e outros petiscos. Ligamos o som na maior altura. Levei algumas mulheres pro meu quarto e lá transamos. Em seguida outros amigos entraram no quarto e rolou uma suruba.
No outro dia a casa tava revirada. Não me recordava do que tinha acontecido na noite passada. Acordei com uma ressaca braba. Tomei um remédio e deitei na cama. Uma hora depois, os empregados chegaram e trataram logo de arrumar a casa. Acordei por volta das cinco da tarde. Acordei excitado. A campainha toca. Uma das empregadas abre.
─ Bruno. Seu amigo está lá embaixo querendo falar com você ─ falou uma empregada.
Desci e lá encontro Leandro. Forte, viril e ainda mais bonito. Estava se cuidando da AIDS. Conversamos até altas horas. Deu nove da noite e começou a cair uma tempestade lá fora. Era chuva de verão. Não deixei Leandro ir embora debaixo daquela chuva. Convidei pra dormir na minha casa e ele aceitou. Contei a ele como tinha me tornado um famoso e rico jogador de futebol e porque deixei a carreira. Ele entendeu a questão. Leandro é do tipo curioso. Olhou em volta do quarto e notou um pó de cocaína sobre a mesa de cabeceira.
─ Você voltou a usar drogas?
─ Uso socialmente. Fase. Apenas uma fase.
Mentira minha! Usava todos os dias. Entramos num clima legal. Ainda estava excitado desde a tarde. Perguntei a Leandro se ele ainda era homossexual. Ele respondeu meneando a cabeça levemente num sim. Não falamos mais nada. Tirei a roupa.
─ É isso o que você quer realmente? ─ ele perguntou.
─ É sim! ─ eu respondi já completamente nu e excitado.
Leandro levantou e me beijou. Ele tirou a roupa também.
─ Eu te amo, Bruno. Como nunca amei nenhum outro homem na vida. Deixa-me ser seu, pra sempre, me deixa ser seu ─ disse ele carinhoso e acariciando meu rosto.
Deitamos na cama e fizemos amor, como se fosse um casal de verdade. (...)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Capítulo 8 - Parte 2

(...) Sentei no sofá meio zonzo com aquelas palavras escrito a lápis e às vezes borrado. Lembrei de tudo o que eu tinha vivido anos atrás. Cheguei a uma conclusão: Atravessei um mundo corrompido, deixei de lado o amor da minha família, tornei-me egoísta, prepotente e arrogante. A recompensa de tudo isso foi à perda de meu pai. O caminho da minha primeira jornada é essa, a perda da minha amada pra sempre e sem nenhum resquício de que, algum dia irei reconquistá-la novamente.
Agora entendo o que ela quis dizer com refugo. Drogas, amizades destruidoras, festas, confusões, dinheiro, fama, poder e sucesso... Tudo é refugo, são coisas que ficarão lá atrás, coisas que serão esquecidas daqui a cem anos. Nada vale mais do que o amor. Nada vale mais do que viver ao lado das pessoas que você ama. Nem dinheiro, nem poder, nem sucesso vão te levar a lugar nenhum, só a grandes torres, a grandes altos, a grandes topos. Esse topo, esses altos e essas torres um dia vão cair e a queda será longa, feia e dura. Só o amor nos levará a grandes altos, a grandes torres e sem quedas, sem feridas e sem dor. (...)

O reencontro:

(...) Ela saiu da casa. Vestia um lindo vestido florido rodado, os cabelos encaracolados, vívidos, perfumados, sua pele morena banhada em óleo de baunilha e mel. Vinham num rebolado exótico, suas formas se desenhavam distintamente, as curvas de seu corpo eram melhores. Mas o que fez mudar tanto assim? Ela me atendeu:
─ Como você está? ─ ela perguntou.
─ Está tudo bem comigo. Você tá diferente, mais bonita, mais sensual. Posso entrar? ─ eu perguntei.
Não deu tempo de responder e logo, Carlos, meu ex-amigo e ex-colega ia saindo da casa sem camisa e sem bermudas, só de sunga. Na certa estava preparando-se pra ir à praia naquela manhã de Domingo.
─ Não. Você não pode entrar na minha casa por que não foi convidado ─ ele disse.
─ O que ele estava fazendo ali com ela naquela casa? ─ perguntei a mim mesmo.
A resposta foi o beijo que ele deu nela ao sair. Percebi que eles estavam juntos. Reparei uma aliança na mão de cada um. Estavam noivos, iam se casar. O meu chão tinha caído naquele momento.
─ Vocês estão noivos? ─ eu interroguei.
─ Vamos casar daqui a alguns dias ─ ela disse meio nostálgica.
─ Podemos conversar? Pode ser aqui fora mesmo, não tem importância ─ eu perguntei.
─ Não posso conversar agora, estou
atrasada, tenho um compromisso ─ ela respondeu.
Decidi deixá-la sair, não quis insistir nem contrariá-la. Voltei ao hotel onde estava hospedado e lá fiquei com um pouco de mágoa no coração. 

Posts doo Capítulo 8


(...) Quando a gente se despede de uma pessoa e parte pra longe, parece que nunca mais iremos ver essa pessoa, ou morrerá ou irá embora sem deixar notícias. Foi essa sensação quando abracei Doralice. Pensei comigo mesmo dentro do avião na ida a Espanha: “Será que ela vai me abandonar? Será que nunca mais verei minha amada?” Disse comigo mesmo: “Para de pensar nessa bobagem, Bruno. É claro que você vai ver a sua amada. É só um ano longe. Quando voltar ao Brasil vai casar e vai ter outro filho com ela”. Infelizmente não foi bem isso o que precedeu. Fiquei dois anos fora, sempre mandando notícias e sempre pedindo que Doralice esperasse por mim que iria voltar para casar com ela. Passou mais um ano e nada de voltar. Eram muitos jogos e já estava envolvido naquilo. Ganhava dinheiro a farta, dinheiro que compraria o Universo se possível fosse. (...)

A carta:
“Bruno”.
Sei que partir foi difícil, mas essa escolha foi a mais sensata. Você prometeu que iria voltar em menos de um ano. Prometeu e não cumpriu. Assegurou que voltaria pra se casar comigo e ter outro filho. Prometeu milhares de coisas e nada se cumpriu. Sabe por que nada se cumpriu? Porque você deixou que a fama e o dinheiro falassem mais altos, se deixou levar por devaneios e ilusões da vida. Tudo que você viveu no passado com as drogas passou, e tudo o que você está vivendo hoje com a fama também vai passar, porque tudo isso é refugo. Você bem sabe disso, estudou a palavra de Deus quando jovem; frequentou a igreja e leu na bíblia que tudo o que há no mundo é refugo, é lixo. Ainda a tempo de voltar atrás e refazer sua vida. Eu voltei para Bahia refazer a minha vida e sei que não vou perder nada com isso. Nosso filho vai ser bem cuidado, garanto! Quando der ligo pra saber notícias. Sem mais é só isso. Espero, amorosamente, que você acate o conselho dessa carta. Saiba Bruno, que não foi qualquer pessoa que escreveu essa humilde carta, foi uma pessoa que lhe ama e lhe quer bem eternamente! Beijos e abraços! Fica com Deus!
“Doralice.”



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Poesia: Coração Quebrantado




Hoje acordei triste e debilitado
Pensei que fosse morrer de solidão
A poucos minutos meu amor deixou meu coração quebrantado
Deu-me vontade de jogar-me no chão.

Meu coração palpita com energia
Á procura de um acalanto para esta dor
Eu não merecia a traição que me escondia
Quero ficar bem distante de um louco amor

Logo que nos conhecemos tinha na face uma santa inocência
E hoje, por sua traição, me deixou com um peso na consciência
Matei-o não por ódio, mas por ócio, por outro alguém
Do efêmero romance que vivíamos com desdém.

Fiz questão de cuspir em seu caixão com prazer
Nem seu espírito encarnado no lençol vai me impedir de renascer
Porque deixastes meu coração sem forças?
Apenas quero que todas as lembranças do nosso amor morras.

Joguei fora suas fotos, suas roupas e qualquer outra lembrança
Esvaziei minh'alma sem esperança, como uma criança
Longe de mim está vivo o enredo desse drama
E não mais haverá resquícios de canções da nossa trama.

Porque deixastes meu coração quebrantado, amor?
Da sepultura, tu ouves meu clamor?
Para que guardar recordações de nossas paixões ardentes?
Só eu sei o quanto errei por matá-la com minhas mãos dementes.

Hoje acordei triste, fraco e debilitado
Pois deixastes meu insano coração quebrantado...
Em trapos estou... sem forças, sem ânimo, despedaçado...
Quebrantado.

Inverno, Setembro de 2012

Posts do Capítulo 7

(...) Eu sou o empresário de um time de futebol muito famoso. Andei sabendo sobre sua vida por um grande amigo seu. Ele contou-me sobre sua trajetória de vida, sobre os seus sonhos, suas ambições, contou-me tudo o que eu precisava saber.
─ Saber pra quê? ─ eu indaguei.
─ Quero lhe fazer uma proposta irrecusável. Você aceita fazer um teste pro nosso time?
─ Teste pra quê? ─ interroguei.
─ Teste de habilidade. Se a direção achar que você é bom mesmo como os outros dizem, nós vamos lhe dar uma chance no time corintiano. O que me diz da proposta?
A notícia foi se digerindo aos poucos em mim até que eu acreditasse naquilo que tinha ouvido. Parecia um sonho. Aliás, é um sonho e esse sonho está quase se realizando, basta eu querer. “E agora?” perguntei-me. E continuei em minha mente: “O que é que eu faço? Eu continuo nesse mundo ou resolvo recomeçar a vida?” Lembrei que tinha prometido a meu pai se eu largasse o mundo das drogas ele iria aceitar minha ajuda pra se curar. O meu sonho agora falava mais alto e eu decidi aceitar a proposta daquele homem. (...)
(...)
(...) ─ Bruno Santos de Almeida. Pode se considerar integrante do time! Você foi aprovado!
Fiquei extasiado, pulei de alegria, soltei gritos de felicidade. Vi meu sonho, enfim, ser realizado naquele momento. Tinha que tirar uma foto pra registrar aquela vitória. Pedi pra um juiz tirar uma fotografia comigo e com os outros jogadores do time.
Dias depois assinei o contrato e comecei a jogar numa partida em São Paulo contra o Vasco. Naquele ano anunciava em todos os jornais do mundo o novo meio-campo do Corinthians, Bruno Santos. Já estava conhecido em todo o mundo por causa daqueles noticiários. Fiz meu primeiro gol contra o Vasco. A arquibancada vibrou de alegria. Meus colegas me abraçavam e diziam no meu ouvido que eu era o craque do time. O time adversário fez outro gol e ficou tudo empatado. No segundo tempo, viramos o placar e ganhamos a partida. Naquele jogo, minha alegria maior foi ver que no meu primeiro jogo eu tinha deixado a torcida corintiana feliz e orgulhosa com os meus dois gols fascinantes. (...)
(...) Não esperava encontrar meu pai num hospital público, deitado numa cama, no quarto de UTI esperando a cirurgia. A aparência dele estava mais gasta, mais velha. Estava mais magro, mal o alimentavam, os seus ossos se definiam claros na face. Aquela doença acabou com a exterioridade do meu pai. E a interioridade também. Tião parecia mais amargo, indisposto e infeliz. Não era mais aquele homem de cinco anos atrás, feliz e saudável. Era um homem acabado, impotente e depressivo. Tião estava ao ápice do desfalecimento. Eu já sabia que ele não ia aguentar muito tempo. Minha persistência e determinação falaram mais alto e eu decidi ajudá-lo. (...) 
(...) “A minha vida acaba por aqui, filho!”. Foi essa frase que ele disse para mim apertando bem forte minha mão. Eu senti o que aquelas lágrimas representavam e disse ainda com a mão sobre a dele:
─ Você vai suportar essa barra pai. A cirurgia acabou, agora você está livre desse câncer. Lembra que eu prometi a você que eu daria a nossa família um futuro melhor? Então. Vou cumprir minha promessa, pai, e nós vamos viver felizes, muito felizes daqui por diante.
─ Ainda se recorda que prometeu que iria largar as drogas?
─ Recordo-me sim.
─ Você prometeu e cumpriu.
Você, filho, é um homem de palavras, cumpriu o que prometeu e hoje está liberto do mal. Eu fico muito feliz de ver que você conquistou seu tão esperado sonho, hoje você é um grande jogador de futebol. Parabéns filho! Continue assim. Continue levando felicidades a todos os cidadãos do Brasil. Mostre aos jovens de hoje que é possível vencer as drogas e que é possível viver a vida sem elas. Promete mais uma coisa pra mim.
─ O que você quiser pai. Fala.
─ Promete que vai cuidar do seu irmão por mim. Promete que nunca vai abandoná-lo. E mais uma coisa: você vai reconstruir as pedras quebradas que existem do amor entre você e Doralice. Agora, meu filho, vocês tem um filho juntos e esse filho é atração que vai juntar vocês dois novamente.
─ Não morre pai.
─ Tá chegando minha hora filho. Você sabia que eu não ia aguentar por muito tempo. Sabia que um dia eu ia deixar esse mundo.
─ Me perdoa por tudo o que eu fiz você passar, me perdoa.
─ Jesus perdoou tantas vezes, né meu filho? Porque eu, um pai tão amoroso, tão dedicado a vocês não poderia perdoar também? Tá perdoado sim. Estou indo filho, fica com Deus. Saiba que eu te amo. E onde eu estiver estarei olhando pra vocês, sempre!
Observei o eletro encefalograma, os níveis de batimento cardíacos estavam oscilando. Por fim, meu amado pai morreu, bem ali na minha frente, com as mãos ainda seguras as minhas. Comecei a chorar e a pedir que ele não fosse embora. Ele fechou os olhos e partiu. Eu chorava desesperadamente e inconsoladamente. (...)
 

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Posts do Capítulo 6


(...) Como diz aquele ditado: “Dinheiro não traz felicidade”. Só agora eu entendia porque não trazia felicidade. Você leva uma vida chata, vazia, parece que algo está faltando na sua vida. E pra completar minha vida o que faltava era amor, amor da minha família a quem eu mais amava no mundo e que os perdi por desejos dos olhos e do coração. As pessoas que se aproximam de você quando você fica rico é por mero interesse no seu dinheiro e nos seus bens. Quando você fica pobre ninguém jamais lhe conheceu e jamais esteve com você. Porque quando se é pobre essas pessoas não se aproximam da gente? Justamente porque elas estão interessadas e apegadas apenas em dinheiro e bens materiais, não no amor em sua essência. (...) 
(...)
(...) Passaram-se alguns fragmentos da vida: eu, um cara drogado, que saiu de casa na juventude pra mergulhar na podridão, nesse antro vil de perdição que se chama MUNDO. (...)
(...)
(...) Sentamos no sofá, ficamos calados por minutos, até que Tião resolveu se pronunciar:
─ Como está você?
─ Estou bem ─ eu respondi.
Deu pra perceber que estava muito bem, mais bonito, mais forte, jóias caras no corpo, tatuagens e brincos, e rico. Ele perguntou se eu estava bem de saúde, eu respondi num “Sim” seco.
─ Você tá rico, agora, não é? ─ ele me perguntou meio frio.
─ É... fiquei rico, ─ respondi mais frio ainda.
─ Como? ─ ele interrogou me olhando seriamente.
─ Acho melhor o senhor não saber ─ eu disse.
─ Por quê? Você ficou rico ilegalmente? Andou roubando por aí? ─ ele perguntou.
 Ele sacou que fiquei rico vendendo drogas. Resolvi mudar a conversa de rumo e partir pra outro assunto. Perguntei a ele como estava a saúde. Ele disse que não estava muito boa, tinha ido ao médico um dia desses e que descobriu que o câncer estava acelerado e que se não cuidasse ia morrer em alguns meses. Aquilo me deixou contristado, não tive mais palavras. Perguntei a ele depois:
─ Por que o senhor ainda continua trabalhando? Por que não vai se cuidar?
─ Não tenho dinheiro pra fazer uma cirurgia, Bruno. O dinheiro que tenho ganhado é pra pagar as contas de casa e a comida. De que eu vou viver se parar de trabalhar? ─ ele resmungou.
─ Eu te ajudo se o senhor quiser ─ disse eu.
─ Não precisa me ajudar. Não gaste o seu dinheiro comigo ─ ele disse quase que revoltado.
Eu insistir naquilo e disse que ia tirá-lo dali pra ajudá-lo a cuidar do câncer.
─ Eu já disse que não precisa gastar seu dinheiro comigo. Gaste o seu dinheiro com outras coisas ─ ele continuou com o egoísmo.
─ Deixa de ser egoísta, pai, aceita minha ajuda.
─ Não é questão de ter egoísmo, é questão de ter moral. Não quero usufruir do seu dinheiro... ─ ele ia completar dizendo... “dinheiro roubado e ganhado desonesta-mente”, mas resolveu se calar.
─ Se eu largar as drogas, você aceita minha ajuda? Se eu ganhar dinheiro honestamente você aceita se curar? ─ eu disse.
─ Dessa forma sim ─ ele disse.
Eu sabia que largar aquele mundo em que eu mergulhei não ia ser fácil. Estava mentindo pra ele e pra mim mesmo. (...)
(...) Quando sair da casa de Doralice deparou-me com um cara alto e forte. Estava vestido elegante, charmoso. Do outro lado da rua tinha um carro de um time de futebol. Quando vi que era o slogan de um famoso time de futebol não acreditei. O cara elegante perguntou-me:
─ É você que é o Bruno Santos?
─ Sim, sou eu. Por quê? ─ perguntei.
─ Nós ficamos sabendo da sua história por um amigo seu e decidimos conversar com você ─ ele falou.
─ Sobre? ─ interroguei meio equivocado.
─ Você sonha alto, não sonha? ─ ele perguntou meio cativante.
─ Até onde eu possa alcançar. Sonho em ser um grande jogador de futebol. Mas porque essas perguntas agora? ─ eu estava bastante curioso pra saber o que era, acho que já previa.
─ Bruno, nós queremos lhe fazer uma proposta. Mas antes, você aceita conversar num lugar reservado? Vamos almoçar juntos. Tem um restaurante aqui perto, poderíamos ir até lá. O que você acha? ─ perguntou.
─ Vou sim ─ eu concordei. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Posts do Capítulo 5

(...) Enquanto eles me procuravam eu estava, mais uma vez entocado dentro do quarto, que eu chamava de cubículo, cheirando pó e fumando. Eu já tinha perdido mais uns 10 quilos, estava pesando mais ou menos uns 35 quilos. Resolvi não me entregar e decidir comer, de manhã, à tarde e a noite. Também fazia caminhadas pela orla de Itapoã, mas a vontade de usar drogas era mais profunda. Aquele desejo não saia mais de mim e eu ia me afundando cada vez mais nesse mundo.(...)
(...)
(...) Por azar da vida, os policias me prenderam por porte ilegal de armas. Arma que o Carlos tinha me emprestado pra justamente matar o Rosinaldo se ele não pagasse a dívida. O delegado nem quis saber das minhas explicações e foi logo me mandando direto pra cela. Aquela cela era imunda, não tinha lugar para se sentar nem pra deitar, só o chão molhado era nossa única solução. Nossa, porque mais dois meliantes me faziam companhia. Eram dois homens mal encarados, me olhavam de um jeito estranho, me encaravam como se eu fosse mais perigoso do que eles, mas a cara não negava, eles tinham caras muito ameaçadoras. Me encolhi dali, fiquei calado no meu canto até que algo fosse resolvido ao meu favor. Fiquei desesperado quando soube que ia passar a noite na cadeia. Não queria de jeito nenhum ficar ali trancafiado naquela pocilga, naquela podridão na companhia do medo, o maior medo era de encarar aqueles homens que não tiravam o olhar de mim, pensei até que eles iam me dar alguma surra ou fazer algum outro mal, sei lá, a gente nunca pode esperar coisa boa vinda dessas pessoas. (...)
(...)
(...) Quando sair do banheiro, meu pai disse: “Fiz uma comida pra você, filho. Tá na mesa”. Fui até a cozinha ver o que era. Estava na mesa um prato com arroz, feijão, farinha e carne, tudo misturado, era uma gororoba. Disse a ele: “Não vou comer essa comida de pobre. Isso vai me fazer mal. Vou dormir com fome mesmo” e entrei pro quarto. Meu pai ficou na sala meio estarrecido, cabisbaixo, ia chorar não de raiva, mas de pena. Pensei comigo mesmo: “Como é que pode um jovem criado numa favela recusar o que sempre comeu toda a vida? Arroz, feijão, farinha e carne?”. O egoísmo tomou conta de mim. Agora tinha que enfrentar os meus maiores inimigos: o egoísmo, a arrogância e a prepotência. (...)
(...)
(...) Fui até a praia, sentei na areia e olhei bem fundo ao horizonte. Nesse momento não conseguia pensar em nada, só queria pensar nas drogas, como eu arranjaria mais, como me tornar um grande traficante de drogas. Meu pensamento pareceu real e foi real. Não foi mágico, mas foi muito rápido. Não sei co-mo aquilo aconteceu. Tornei-me o chefe de uma boca de Salvador. Recebia drogas, distribuía e vendia. Quanto mais eu vendia mais ficava rico. Tirava todo mês em torno de dez milhões de reais. Fiquei poderoso, todos passaram a me respeitar. Nem o Carlos e o Leandro conseguiram o que eu conseguir em poucos dias. (...)

 

domingo, 2 de dezembro de 2012

Posts do Capítulo 4 - Viagem Sem Volta

(...) “Como o senhor está pai?”. “Bem melhor meu filho” ele respondeu meio cansado. Eu continuei: “Queria pedir desculpas por ontem. Sei que lhe magoei expondo o estava se passando comigo. Devia ter pensado na sua saúde antes de tudo”. Ele me olhou profundamente, e disse: “Eu não quero te ver jogado nesse mundo feito cão sem dono Bruno. Eu te amo filho, eu te amo, te amo muito, demais. Você pra mim é um ídolo. Eu te admiro muito, você é determinado, estudioso, batalhador, sonha alto... você é exemplo de muitos jovens aí fora. As pessoas desse bairro te admiram, te adoram, sabem quem você é. Seu sonho não pode ser interrompido desse jeito, você tem que continuar a persistir nele até alcançar. E eu sei que você vai alcançar. Não me dá desgosto agora no fim da minha vida, meu filho, por favor,”. As lágrimas que saiam dos seus olhos e as palavras comoventes me deixaram comovido, cai no choro e abracei-o firme, intenso. Ficamos abraçados por muito tempo, até nos acalmarmos. (...)
(...)
(...) Foi a partir daí que eu comecei a abandonar tudo de uma só vez. Achava que nunca, nada tinha mais jeito na minha vida. O único jeito pra me consolar era mergulhar no mundo das drogas e me afundar de vez, sem olhar pros lados, sem nunca olhar pros lados. E foi isso o que exatamente aconteceu. Procurei Carlos e Leandro pra me darem drogas e eles me deram. Pagaria ao Carlos satisfazendo os desejos do Leandro. A primeira vez que nós transamos, o Leandro gostou e quis mais, na segunda foi melhor, pra ele, pra mim era sem graça, só tinha graça quando a ereção saia dava um prazer e eu não pensava mais naquele viado, pensava na Doralice. Pra pagar as drogas que eu usava tive que me prostituir. Acha que me prostituir pra satisfazer desejos de mulher? Engano. Prostituir-me pra satisfazer os desejos dos homens que gostavam de comer viado. Foi isso o que me tornei, um homossexual.Passei a me infiltrar em gangues pra roubar bancos, extorquir pessoas, assaltar gente pobre e rica, ambas indefesas. Pedi pra Doralice abortar o filho, ela não queria, pois a criança já estava desenvolvida, ela estava no sexto mês de gestação e não tinha mais jeito mesmo. Ela continuou com a gravidez, mas sem mim, porque eu a abandonei. E não foi só ela que eu abandonei. Desistir dos meus sonhos, abandonei minha casa e fui morar com o Leandro — ele mora sozinho, já é independente, se sustenta com as drogas que vende e com as noitadas nas orlas — abandonei meu pai e meu irmão, fingi que nunca existiram pra mim. Passava 24 horas fumando drogas no quartinho que o Leandro conseguiu pra mim, não parava pra comer. Perdi 10 quilos, estava osso puro, já não era muito gordo mesmo. Estava irreconhecível. Não era mais o Bruno Santos, o cara sonhador e batalhador do Pelourinho, era o Bruno Santos, drogado e jogado no mundo feito um cachorro sarnento. (...)