─ Saber pra quê? ─ eu indaguei.
─ Quero lhe fazer uma proposta irrecusável. Você aceita fazer um teste
pro nosso time?
─ Teste pra quê? ─ interroguei.
─ Teste de habilidade. Se a direção achar que você é bom mesmo como os
outros dizem, nós vamos lhe dar uma chance no time corintiano. O que me diz da
proposta?
A notícia foi se digerindo aos poucos em mim até que eu acreditasse
naquilo que tinha ouvido. Parecia um sonho. Aliás, é um sonho e esse sonho está
quase se realizando, basta eu querer. “E
agora?” perguntei-me. E continuei em minha mente: “O que é que eu faço? Eu
continuo nesse mundo ou resolvo recomeçar a vida?” Lembrei que tinha
prometido a meu pai se eu largasse o mundo das drogas ele iria aceitar minha
ajuda pra se curar. O meu sonho agora falava mais alto e eu decidi aceitar a
proposta daquele homem. (...)
(...)
(...) ─ Bruno Santos de Almeida. Pode se considerar integrante do time! Você
foi aprovado!
Fiquei extasiado, pulei de alegria, soltei gritos de felicidade. Vi meu
sonho, enfim, ser realizado naquele momento. Tinha que tirar uma foto pra
registrar aquela vitória. Pedi pra um juiz tirar uma fotografia comigo e com os
outros jogadores do time.
Dias depois assinei o contrato e comecei a jogar numa partida em São
Paulo contra o Vasco. Naquele ano anunciava em todos os jornais do mundo o novo
meio-campo do Corinthians, Bruno Santos. Já estava conhecido em todo o mundo
por causa daqueles noticiários. Fiz meu primeiro gol contra o Vasco. A
arquibancada vibrou de alegria. Meus colegas me abraçavam e diziam no meu
ouvido que eu era o craque do time. O time adversário fez outro gol e ficou
tudo empatado. No segundo tempo, viramos o placar e ganhamos a partida. Naquele
jogo, minha alegria maior foi ver que no meu primeiro jogo eu tinha deixado a
torcida corintiana feliz e orgulhosa com os meus dois gols fascinantes. (...)
(...) Não esperava encontrar meu pai num hospital público,
deitado numa cama, no quarto de UTI esperando a cirurgia. A aparência dele
estava mais gasta, mais velha. Estava mais magro, mal o alimentavam, os seus
ossos se definiam claros na face. Aquela doença acabou com a exterioridade do
meu pai. E a interioridade também. Tião parecia mais amargo, indisposto e
infeliz. Não era mais aquele homem de cinco anos atrás, feliz e saudável. Era
um homem acabado, impotente e depressivo. Tião estava ao ápice do desfalecimento. Eu já sabia que ele não ia aguentar muito
tempo. Minha persistência e determinação falaram mais alto e eu decidi
ajudá-lo. (...)
(...) “A minha vida acaba por aqui,
filho!”. Foi
essa frase que ele disse para mim apertando bem forte minha mão. Eu senti o que
aquelas lágrimas representavam e disse ainda com a mão sobre a dele:
─ Você vai suportar essa barra pai. A cirurgia acabou, agora você está
livre desse câncer. Lembra que eu prometi a você que eu daria a nossa família
um futuro melhor? Então. Vou cumprir minha promessa, pai, e nós vamos viver
felizes, muito felizes daqui por diante.
─ Ainda se recorda que prometeu que iria largar as drogas?
─ Recordo-me sim.
─ Você prometeu e cumpriu.
Você, filho, é um homem de palavras, cumpriu o que prometeu e hoje está
liberto do mal. Eu fico muito feliz de ver que você conquistou seu tão esperado
sonho, hoje você é um grande jogador de futebol. Parabéns filho! Continue
assim. Continue levando felicidades a todos os cidadãos do Brasil. Mostre aos
jovens de hoje que é possível vencer as drogas e que é possível viver a vida
sem elas. Promete mais uma coisa pra mim.
─ O que você quiser pai. Fala.
─ Promete que vai cuidar do seu irmão por mim. Promete que nunca vai
abandoná-lo. E mais uma coisa: você vai reconstruir as pedras quebradas que
existem do amor entre você e Doralice. Agora, meu filho, vocês tem um filho
juntos e esse filho é atração que vai juntar vocês dois novamente.
─ Não morre pai.
─ Tá chegando minha hora filho. Você sabia que eu não ia aguentar por
muito tempo. Sabia que um dia eu ia deixar esse mundo.
─ Me perdoa por tudo o que eu fiz você passar, me perdoa.
─ Jesus perdoou tantas vezes, né meu filho? Porque eu, um pai tão
amoroso, tão dedicado a vocês não poderia perdoar também? Tá perdoado sim.
Estou indo filho, fica com Deus. Saiba que eu te amo. E onde eu estiver estarei
olhando pra vocês, sempre!
Observei
o eletro encefalograma, os níveis de batimento cardíacos estavam oscilando. Por
fim, meu amado pai morreu, bem ali na minha frente, com as mãos ainda seguras
as minhas. Comecei a chorar e a pedir que ele não fosse embora. Ele fechou os
olhos e partiu. Eu chorava desesperadamente e inconsoladamente. (...)
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