CAPÍTULO 2 - VIAGEM SEM VOLTA
O sentimento do personagem Bruno de ver a família reunida no Natal:
"(...) Quando olhei praquela árvore bem ornamentada,
lembrei de uma frase de um autor que dizia: Melhor do que todos os presentes embaixo da árvore de
natal é a presença de uma família feliz. Isso é a pura verdade. Só
de ver o brilho nos olhos de titia, de Alan e de papai, me enche o coração e dá
mais vontade de continuar sonhando alto, continuar ambicionando meus desejos
mais intensos. (...)"
O votos de Ano Novo á sua amada Doralice e a noite dos sonhos:
"(...) Foi o Ano Novo mais feliz da minha vida. Olhei bem fundo
nos olhos de Doralice e disse:
─ Meu amor! Que esse ano que está por vir nos encha
de felicidade, paz e amor. Que todos os nossos sonhos se realizem e que o nosso
amor transcorra para sempre!
─ Eu desejo o mesmo meu amor! Desejo também que a
nossa vida mude pra melhor e que você consiga realizar tudo o que sempre
desejou! ─ ela disse.
E nos beijamos depois. Tive uma noite daquelas com minha
amada, transamos até altas horas, ficamos mais ou menos umas duas horas na
cama, dessa vez foi na cama, eu não resistir ao encanto do arranjo que Doralice
preparou pra gente; flores, velas, pétalas de rosas, incensos perfumados, cama
delicada, lençóis limpos e mais outras frescuras de mulher. Já começamos a
transar debaixo do chuveiro, quente, bem quente; frio espantaria aquele fogo
que arrodeava a gente, que envolvia-nos naquela hora, um fogaréu que saia de
não sei de onde. Fomos para cama, ficamos. Dessa vez foi mais forte, mais real.
Parecia que nunca tínhamos transado na vida. Foi mágico, intenso. O eretismo
parecia nunca ter fim, os gemidos foram mais altos, quem tivesse do outro lado
da rua ouviria. (...)"
A vida mudou... para pior. O primeiro contato com as drogas:
"(...) naquele ano a vida daquelas pessoas mudasse, mudasse pra
melhor, ainda melhor do que foi no ano passado. É... Realmente, a vida mudou
mesmo, a minha, principalmente, pra pior.
Foi a primeira vez que eu peguei em drogas na vida, a
primeira vez que eu usei maconha, cocaína depois. Influências de Carlos e
Leandro, meus colegas de classe da nova turma do 3º ano e que depois se
tornaram os meus “melhores amigos”. A primeira vez foi quando eles me
convidaram pra ir à casa de um deles, do Carlos, ressaltamos. Íamos fazer um
trabalho escolar, de Biologia, sobre genética, sobre as Leis de Mendel. Nunca
entendi muito bem o assunto, mas esperaria que Carlos, o mais inteligente da
turma me explicasse. Eles me ofereceram um trago de maconha. Recusei no
momento. Eles me zoaram, tiraram onda com minha cara, até me chamaram de viado;
ah! isso eu não permito. E pra dar a volta por cima dos rebaixamentos traguei
aquele cigarro. Foi intenso. Fiquei fascinado com aquilo. Queria mais, pedi
mais, implorei por mais. Eles me olharam por um instante, pensaram, hesitaram
profundamente, riram depois, também estavam drogados, muito loucos. Carlos
entrou, ficou lá um maior tempão, voltou meio melindroso, me deu mais quatro
cigarros. Aquilo que ele trouxe já não era mais maconha, era ópio. O fumo satisfazia minha vontade.
Drogas era um assunto que eu nunca aprendi, eu nunca sabia como aquilo dava
prazer e que também matava, aos poucos, matava. Era como a AIDS, Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida, provocada por
um vírus chamado HIV. O HIV pode contaminar indivíduos que se
envolvem em situações de risco sem proteção. Essas situações estão muito bem
definidas e caracterizadas, sendo, portanto, facilmente evitáveis. Em casos de
AIDS, manifestam-se diversas doenças, porque o sistema de defesa do organismo
humano fica desorganizado pela ação do HIV. Um
dia matava, vagarosamente, era como se a pessoa tivesse sido dopado por
morfina, aos poucos ia perecendo. Falando em AIDS, eu não sabia que o Leandro
era gay, viado pra ser mais exato. Descobri quando o Carlos me levou pro quarto
com ele e nós transamos; era a primeira vez que eu tinha transado com um gay na
vida. Confesso, foi melhor do que com a Doralice e outras mulheres, o cara sabe
fazer bem, parece que foi treinado numa escola ou coisa do tipo, mas ele não
tinha muito jeito de gay, escondia, era encubado
na certa, não fala pra ninguém por medo ou vergonha, sei lá. Só o comi por
instigação de Carlos e porque estava universalmente drogado, porque se não
fosse isso jamais eu teria cometido essa insanidade. Eu e Carlos fizemos um
trato: se tivesse relações sexuais com Leandro não precisaria pagar toda a
grana das drogas, como não tinha dinheiro suficiente pra quitar toda a dívida,
eu aceitei. O Carlos também comia Leandro, eles só andavam juntos. Leandro era
magro, acho que ele tinha AIDS; tomara que não, visto que o comi sem camisinha;
ele tinha alguns músculos, tinha bunda também, pernas meio grossas, era bonito;
qual o gay hoje em dia que não é bonito? Eles me pediram segredo e eu tive que
guardar, porque se eu contasse o que tinha acontecido naquela tarde iria
manchar toda a minha honra. E marcamos sempre pra fazermos trabalho em trio,
sempre na casa do Carlos. Os pais dele saiam o dia inteiro, nunca paravam em
casa, acho que é por isso que Carlos é assim, autoritário, mandão, traficante,
perigoso, não tinha cara, mas era perigoso. Os encontros pra tratar de assuntos
escolares se tornavam outros encontros, encontros para tragarmos aquelas
drogas, fumávamos e cheirávamos, o Leandro me ensinou a cheirar enquanto Carlos
ia buscar mais tabaco-de-caco; caco, como o dizia. Fiquei ainda mais louco por
aquilo, essas drogas nunca saia de minha cabeça, martelava todo dia, “Fuma
mais, fuma mais, fuma mais!” A música de Renato Russo, aquela “Mais Uma Vez”,
já tinha se expirado da minha mente, e o desejo pelas drogas tomou conta, tomou
conta de tudo."