(...) Como diz aquele ditado: “Dinheiro não traz
felicidade”. Só agora eu entendia porque não trazia felicidade. Você leva uma
vida chata, vazia, parece que algo está faltando na sua vida. E pra completar minha
vida o que faltava era amor, amor da minha família a quem eu mais amava no
mundo e que os perdi por desejos dos olhos e do coração. As pessoas que se
aproximam de você quando você fica rico é por mero interesse no seu dinheiro e
nos seus bens. Quando você fica pobre ninguém jamais lhe conheceu e jamais
esteve com você. Porque quando se é pobre essas pessoas não se aproximam da
gente? Justamente porque elas estão interessadas e apegadas apenas em dinheiro
e bens materiais, não no amor em sua essência. (...)
(...)
(...) Passaram-se alguns fragmentos da vida: eu, um
cara drogado, que saiu de casa na juventude pra mergulhar na podridão, nesse
antro vil de perdição que se chama MUNDO. (...)
(...)
(...) Sentamos no sofá, ficamos calados por minutos, até que Tião resolveu se
pronunciar:
─ Como está você?
─ Estou bem ─ eu respondi.
Deu pra perceber que estava muito bem, mais bonito, mais forte, jóias
caras no corpo, tatuagens e brincos, e rico. Ele perguntou se eu estava bem de
saúde, eu respondi num “Sim” seco.
─ Você tá rico, agora, não é? ─ ele me perguntou meio frio.
─ É... fiquei rico, ─ respondi mais frio ainda.
─ Como? ─ ele interrogou me olhando seriamente.
─ Acho melhor o senhor não saber ─ eu disse.
─ Por quê? Você ficou rico ilegalmente? Andou roubando por aí? ─ ele
perguntou.
Ele sacou que fiquei rico
vendendo drogas. Resolvi mudar a conversa de rumo e partir pra outro assunto.
Perguntei a ele como estava a saúde. Ele disse que não estava muito boa, tinha
ido ao médico um dia desses e que descobriu que o câncer estava acelerado e que
se não cuidasse ia morrer em alguns meses. Aquilo me deixou contristado, não
tive mais palavras. Perguntei a ele depois:
─ Por que o senhor ainda continua trabalhando? Por que não vai se cuidar?
─ Não tenho dinheiro pra fazer uma cirurgia, Bruno. O dinheiro que
tenho ganhado é pra pagar as contas de casa e a comida. De que eu vou viver se
parar de trabalhar? ─ ele resmungou.
─ Eu te ajudo se o senhor quiser ─ disse eu.
─ Não precisa me ajudar. Não gaste o seu dinheiro comigo ─ ele disse
quase que revoltado.
Eu insistir naquilo e disse que ia tirá-lo dali pra ajudá-lo a cuidar
do câncer.
─ Eu já disse que não precisa gastar seu dinheiro comigo. Gaste o seu
dinheiro com outras coisas ─ ele continuou com o egoísmo.
─ Deixa de ser egoísta, pai, aceita minha ajuda.
─ Não é questão de ter egoísmo, é questão de ter moral. Não quero
usufruir do seu dinheiro... ─ ele ia completar dizendo... “dinheiro roubado e
ganhado desonesta-mente”, mas resolveu se calar.
─ Se eu largar as drogas, você aceita minha ajuda? Se eu ganhar
dinheiro honestamente você aceita se curar? ─ eu disse.
─ Dessa forma sim ─ ele disse.
Eu sabia que largar aquele mundo em que eu mergulhei não ia ser fácil.
Estava mentindo pra ele e pra mim mesmo. (...)
(...) Quando sair da casa de Doralice deparou-me com um cara alto e
forte. Estava vestido elegante, charmoso. Do outro lado da rua tinha um carro
de um time de futebol. Quando vi que era o slogan de um famoso time de futebol
não acreditei. O cara elegante perguntou-me:
─ É você que é o Bruno Santos?
─ Sim, sou eu. Por quê? ─ perguntei.
─ Nós ficamos sabendo da sua história por um amigo seu e decidimos
conversar com você ─ ele falou.
─ Sobre? ─ interroguei meio equivocado.
─ Você sonha alto, não sonha? ─ ele perguntou meio cativante.
─ Até onde eu possa alcançar. Sonho em ser um grande jogador de
futebol. Mas porque essas perguntas agora? ─ eu estava bastante curioso pra
saber o que era, acho que já previa.
─ Bruno, nós queremos lhe fazer uma proposta. Mas antes, você aceita
conversar num lugar reservado? Vamos almoçar juntos. Tem um restaurante aqui
perto, poderíamos ir até lá. O que você acha? ─ perguntou.
─ Vou sim ─ eu concordei.
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