segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Posts do Capítulo 5

(...) Enquanto eles me procuravam eu estava, mais uma vez entocado dentro do quarto, que eu chamava de cubículo, cheirando pó e fumando. Eu já tinha perdido mais uns 10 quilos, estava pesando mais ou menos uns 35 quilos. Resolvi não me entregar e decidir comer, de manhã, à tarde e a noite. Também fazia caminhadas pela orla de Itapoã, mas a vontade de usar drogas era mais profunda. Aquele desejo não saia mais de mim e eu ia me afundando cada vez mais nesse mundo.(...)
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(...) Por azar da vida, os policias me prenderam por porte ilegal de armas. Arma que o Carlos tinha me emprestado pra justamente matar o Rosinaldo se ele não pagasse a dívida. O delegado nem quis saber das minhas explicações e foi logo me mandando direto pra cela. Aquela cela era imunda, não tinha lugar para se sentar nem pra deitar, só o chão molhado era nossa única solução. Nossa, porque mais dois meliantes me faziam companhia. Eram dois homens mal encarados, me olhavam de um jeito estranho, me encaravam como se eu fosse mais perigoso do que eles, mas a cara não negava, eles tinham caras muito ameaçadoras. Me encolhi dali, fiquei calado no meu canto até que algo fosse resolvido ao meu favor. Fiquei desesperado quando soube que ia passar a noite na cadeia. Não queria de jeito nenhum ficar ali trancafiado naquela pocilga, naquela podridão na companhia do medo, o maior medo era de encarar aqueles homens que não tiravam o olhar de mim, pensei até que eles iam me dar alguma surra ou fazer algum outro mal, sei lá, a gente nunca pode esperar coisa boa vinda dessas pessoas. (...)
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(...) Quando sair do banheiro, meu pai disse: “Fiz uma comida pra você, filho. Tá na mesa”. Fui até a cozinha ver o que era. Estava na mesa um prato com arroz, feijão, farinha e carne, tudo misturado, era uma gororoba. Disse a ele: “Não vou comer essa comida de pobre. Isso vai me fazer mal. Vou dormir com fome mesmo” e entrei pro quarto. Meu pai ficou na sala meio estarrecido, cabisbaixo, ia chorar não de raiva, mas de pena. Pensei comigo mesmo: “Como é que pode um jovem criado numa favela recusar o que sempre comeu toda a vida? Arroz, feijão, farinha e carne?”. O egoísmo tomou conta de mim. Agora tinha que enfrentar os meus maiores inimigos: o egoísmo, a arrogância e a prepotência. (...)
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(...) Fui até a praia, sentei na areia e olhei bem fundo ao horizonte. Nesse momento não conseguia pensar em nada, só queria pensar nas drogas, como eu arranjaria mais, como me tornar um grande traficante de drogas. Meu pensamento pareceu real e foi real. Não foi mágico, mas foi muito rápido. Não sei co-mo aquilo aconteceu. Tornei-me o chefe de uma boca de Salvador. Recebia drogas, distribuía e vendia. Quanto mais eu vendia mais ficava rico. Tirava todo mês em torno de dez milhões de reais. Fiquei poderoso, todos passaram a me respeitar. Nem o Carlos e o Leandro conseguiram o que eu conseguir em poucos dias. (...)

 

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